
Antes de qualquer coisa, não me venham dizer que desrespeitei a instituição ao expor os nomes de três promotores nesta matéria. Se tivesse generalizado, colocando todos juntos, aí sim estaria cometendo uma injustiça contra uma entidade essencial para o equilíbrio democrático. Mas fiz questão de nominar, porque uma instituição não pode pagar pelas atitudes de alguns indivíduos.
Sou jornalista, gestor público e respeito profundamente o SINDJOR e a Fenaj, entidades das quais sou filiado e me orgulho de pertencer. Respeito a Justiça e todas as suas instâncias, a política e os políticos, a religião em todas as suas vertentes, os motoristas de aplicativo e todos os trabalhadores. Em suma, sou um cidadão que respeita a sociedade como um todo e, por isso, não me calo diante de fatos que merecem ser debatidos.
O Ministério Público do Estado de Mato Grosso (MPE-MT) deveria ser uma das mais respeitáveis instituições do Estado. Afinal, sua missão é clara: defender o interesse público, zelar pela aplicação correta das leis e garantir que a sociedade tenha um fiscal isento do poder. No entanto, nos últimos anos, a imagem da instituição tem sido desgastada, não por ataques externos, mas pelo comportamento de alguns de seus próprios integrantes.
Entre os principais personagens desse cenário, destacam-se três promotores que, cada um à sua maneira, parecem ter transformado o MPE-MT em um trampolim para seus próprios interesses, colocando seus projetos pessoais acima da missão institucional que deveriam cumprir.
O Caso José Antônio Borges: Entre o VLT e a Promessa de Um Futuro no Judiciário
O ex-Procurador-Geral de Justiça José Antônio Borges tornou-se uma das vozes mais contundentes na defesa da substituição do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) pelo BRT em Cuiabá. Seu discurso afinado com o governo estadual chamou atenção e alimentou suspeitas sobre uma possível motivação política na decisão. Afinal, o VLT já estava 75% concluído e os vagões comprados, mas, ainda assim, Borges sustentava a narrativa da “modernidade” do BRT, coincidentemente a mesma tese defendida pelo governo.
Os efeitos dessa escolha para a cidade e para os cofres públicos ainda serão sentidos por anos. Mas o que já é evidente é que Borges encerrou sua passagem pelo cargo com uma avaliação longe de ser positiva. Em sua tentativa de voltar ao MPE via eleição interna, sua votação foi um reflexo amargo desse período: apenas 65 votos. Para alguém que ocupou o cargo máximo do órgão, a rejeição foi clara.
Marcos Regenold: De Rondonópolis ao Tribunal de Justiça
Outro nome que emergiu no centro dessa crise de credibilidade foi o de Marcos Regenold. O agora desembargador teve uma trajetória repleta de episódios controversos, desde problemas pessoais que se tornaram de conhecimento público até sua atuação abusiva contra o ex-prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro. Seu envolvimento com a Operação Ararath e sua mudança de Rondonópolis para Cuiabá levantaram questionamentos que nunca foram plenamente esclarecidos.
Apesar de ter sido o menos votado na lista tríplice do Tribunal de Justiça, Regenold foi o escolhido pelo governador para ocupar uma vaga no TJ-MT. A recompensa veio após anos de atuação alinhada aos interesses do Executivo estadual, incluindo sua desmedida postura contra adversários políticos do governo. Hoje, seu nome continua a circular, não apenas pelos corredores da Justiça, mas também pelas ruas de Cuiabá a bordo de uma luxuosa Porsche, símbolo de um poder que deveria servir à sociedade, mas que muitas vezes parece desconectado dela.
Deosdete Cruz e a Política de Subserviência
O terceiro personagem dessa trama, o promotor Deosdete Cruz, consolidou-se como um dos mais fiéis aliados do governo estadual dentro do MPE. Sua proximidade com o Executivo e sua postura de subserviência pública foram alvo de críticas dentro e fora da instituição. Suas aspirações ao cargo de desembargador não são segredo, e, se o histórico recente servir de indicação, sua nomeação pode ser apenas uma questão de tempo.
Mais do que suas escolhas individuais, o que chama a atenção é o impacto coletivo que essas posturas vêm causando à credibilidade do Ministério Público. A instituição, que deveria ser a guardiã da lei, passou a ser vista com desconfiança, vítima da omissão de seus membros mais experientes e do silêncio daqueles que deveriam se insurgir contra o que parece ser um corporativismo autodestrutivo.
O Futuro do MPE-MT e a Responsabilidade do Novo PGE
Com a chegada de Rodrigo Costa à Procuradoria-Geral de Justiça, abre-se uma oportunidade de reconstrução. Sua gestão será desafiada não apenas pela necessidade de recuperar a imagem do MPE-MT, mas também por uma missão mais difícil: restabelecer a confiança da sociedade na instituição.
O Ministério Público não pode ser refém de projetos pessoais, tampouco de alinhamentos políticos que comprometam sua isenção. Como já disse uma célebre figura política, “instituições não cometem crimes, pessoas cometem.” Cabe agora ao novo comando do MPE-MT garantir que a instituição recupere seu papel original e que os desvios individuais não contaminem a essência do órgão.
A sociedade mato-grossense observa. E, desta vez, espera respostas.
Popó Pinheiro
Jornalista e Gestor Publico