
É escandaloso, desumano, inimaginável, mas aconteceu. Mauro Mendes, governador do estado de Mato Grosso, admitiu sem pudor que, por puro capricho e desavença política com o então prefeito Emanuel Pinheiro, deixou de enviar recursos destinados à saúde de Cuiabá. Isso mesmo: saúde, o bem mais básico, o que separa a vida da morte, foi usado como arma de guerra política. Quantas vidas foram perdidas? Quantos pacientes ficaram sem atendimento, sem remédio, sem amparo? Quantas famílias choraram seus mortos, vítimas de uma decisão que não tinha outra justificativa senão a mesquinhez de uma vingança pessoal?
É preciso dizer com todas as letras: isso não é política, é barbárie institucionalizada. Quando um governador, eleito para zelar pelo povo, confessa que “segurou” recursos por antipatia ao prefeito da capital, ele não está atacando um adversário político. Ele está golpeando diretamente cada cidadão cuiabano que depende de um hospital, de uma consulta, de um medicamento. É um crime moral contra os princípios mais básicos da administração pública. É a degeneração completa da ética. E o pior: admitido com a mesma naturalidade de quem confessa não gostar de jiló.
O que mais impressiona é a frieza com que essa confissão foi feita. Ao chamar o ex-prefeito de “malandro”, Mendes parece ignorar que sua atitude foi infinitamente pior. A população de Cuiabá, as mães que perderam filhos por falta de leito, os idosos que ficaram sem remédios essenciais, não são números numa planilha de ajuste político. São vidas ceifadas pela irresponsabilidade de quem tinha o dever de agir como estadista e preferiu brincar de senhor feudal.
Esse episódio ficará marcado como um dos momentos mais sombrios da história de Mato Grosso. Não é apenas uma questão de incompetência ou descaso, mas de crueldade calculada. A saúde não pode ser refém de vaidades ou rivalidades políticas. E quem transforma a gestão pública em um tabuleiro de vingança carrega nas mãos o peso das vidas que poderiam ter sido salvas. Mauro Mendes não prejudicou Emanuel Pinheiro; ele feriu, humilhou e matou a esperança de um povo que apenas queria viver.