
É curioso – e profundamente revelador – observar como os defensores autoproclamados da “liberdade” têm uma tendência peculiar de calibrar suas indignações ao sabor das conveniências políticas. Aqui no Brasil, os bolsonaristas sobem nas tamancas diante de qualquer tentativa do Supremo Tribunal Federal de regulamentar as redes sociais. Em praça pública – ou melhor, nos grupos de WhatsApp e nos vídeos caseiros do YouTube – vociferam palavras como “censura”, “ditadura” e “ameaça à democracia”.
Mas eis que do outro lado do hemisfério, o oráculo bolsonarista, Donald Trump, ressurge do pântano da polarização americana com uma decisão no mínimo controversa: banir o TikTok, a plataforma favorita de milhões de jovens, por conta de um suposto perigo à segurança nacional. E o que fazem os valentes defensores da liberdade? Silêncio. Silêncio ensurdecedor. Nenhuma live indignada. Nenhum post de Telegram em letras maiúsculas. Nenhuma manifestação em frente à embaixada dos EUA.
Não é curioso? Quando o STF decide que redes sociais precisam seguir regras claras para conter desinformação e proteger as instituições democráticas, temos um levante: “Liberdade de expressão sob ataque!”, gritam. Mas quando Trump decide, de forma unilateral, arrancar o TikTok das mãos de 170 milhões de americanos, os mesmos defensores da “liberdade plena” se acomodam em um mutismo conveniente.
É como se a liberdade fosse uma moeda de troca. Quando as regras vêm de quem eles não apoiam, trata-se de censura. Quando a proibição vem de Trump, é “proteção da soberania”. Para os bolsonaristas, a “liberdade” é tão maleável quanto a definição de patriotismo: um conceito que se adapta às conveniências do líder da vez.