
CUIABÁ – A sessão solene da Câmara Municipal de Cuiabá prometia ser um espaço institucional de diálogo e prestação de contas, mas se transformou em um verdadeiro campo de batalha política. No centro da arena, o prefeito Abílio, outrora um arauto da moralidade, foi confrontado por uma enxurrada de denúncias capitaneadas pelo vereador Jeferson Siqueira. O motivo? Um espetáculo de nepotismo explícito, uma dança das cadeiras onde sobrenomes familiares se multiplicam na folha de pagamento do município.
Jeferson, munido de uma retórica afiada e uma paciência curta para hipocrisias, não poupou palavras. Lembrou a todos – e, principalmente, ao prefeito – das promessas de campanha. “Não vou contratar familiares de vereadores”, dizia Abílio nos palanques, embalado pelo discurso anticorrupção que o levou ao Paço Municipal. Mas, agora, a realidade desmente o teatro eleitoral. O Diário Oficial não mente: os parentes dos vereadores tomaram a administração como quem chega a um banquete servido com dinheiro público.
A tentativa de silenciamento do vereador foi um espetáculo à parte. A presidência da Casa tentou desviar o foco, puxar o freio do discurso incômodo. Mas Jeferson, intransigente na denúncia, rebateu: “O discurso é meu. Como assim? E o meu direito de expressão? E a minha imunidade parlamentar?” Enquanto isso, o prefeito Abílio, em um gesto que diz mais do que qualquer palavra, se levantou e saiu. Não enfrentou as acusações, não justificou o descompasso entre promessas e atos. Saiu. Abandonou o debate como quem foge de um espelho que reflete um rosto irreconhecível.
O que se viu ali foi mais do que um embate político. Foi a materialização do desencanto, do fosso entre a esperança e a realidade. A política de Cuiabá, como um roteiro previsível, mais uma vez entrega ao público um espetáculo de traições ideológicas, onde os personagens que prometiam ser diferentes apenas reproduzem o velho script do fisiologismo.
Abílio, que um dia se apresentou como o guardião da ética, agora se vê tragado pelo mesmo sistema que jurou combater. O nepotismo, longe de ser um detalhe administrativo, corrói a eficiência da máquina pública, transforma mérito em favor e desmoraliza aqueles que acreditaram que, desta vez, as coisas seriam diferentes.Mas, ao que tudo indica, em Cuiabá, o novo sempre nasce velho.