
A nova gestão de Abílio Brunini (PL) na Prefeitura de Cuiabá já começou com o velho roteiro conhecido da política mato-grossense: decretar calamidade financeira. Como já é tradição, a narrativa do caos econômico surge para justificar cortes e medidas impopulares, enquanto o gestor se apresenta como o herói que “salvará” as contas públicas. Abílio segue à risca a cartilha de Mauro Mendes (União Brasil), que, sempre que assume um cargo, começa acusando o antecessor de ter deixado um cenário de terra arrasada. Foi assim quando sucedeu Chico Galindo na prefeitura e, depois, Pedro Taques no governo do estado.
O pretexto da calamidade não é apenas uma jogada política, mas também um ataque direto aos servidores públicos, que são os primeiros a pagar a conta da suposta austeridade. O adiamento do 13º salário para dezembro é um golpe duro para os trabalhadores municipais, retirando um direito que, em anos anteriores, ajudava a movimentar a economia local nos meses de aniversário. A gestão Abílio repete o modus operandi de Mauro Mendes no Palácio Paiaguás, que transformou o funcionalismo estadual em bode expiatório de sua gestão, com atrasos salariais e redução de benefícios.
Fica claro que a política de “valorização do servidor”, tão alardeada nas campanhas, não passa de retórica vazia. A portaria assinada pelo secretário Marcelo Bussiki (União Brasil), sob o argumento de “responsabilidade fiscal”, escancara o descaso com os trabalhadores e demonstra que a calamidade financeira é menos sobre números e mais sobre narrativas. No fundo, o maior caos enfrentado pelo funcionalismo não está nas finanças, mas na falta de vontade política de priorizar quem mantém a máquina pública funcionando.
O cenário deixa uma lição: o discurso da austeridade sempre parece ter um único alvo, os servidores. Enquanto isso, gastos com cargos comissionados e contratos políticos continuam intocados. A calamidade, portanto, não está nas contas públicas, mas na estratégia desgastada de gestores que tentam esconder sua falta de compromisso social atrás de um factoide conveniente.