
É triste, mas não surpreende, quando um líder eleito para cuidar de uma cidade como Cuiabá decide, em seus primeiros dias no poder, mostrar que coerência e empatia podem ser artigos raros na política. Abílio Brunini, o novo prefeito, já nos deu uma amostra amarga do que parece ser sua verdadeira marca de governar: o teatro da humanidade seguido pela prática do abandono.
Primeiro, em meio às chuvas que castigaram a cidade, Brunini posou como salvador. Com discursos emocionados e gestos de “solidariedade”, anunciou um auxílio de mil reais para as poucas vítimas da tragédia. Um gesto simbólico, quase marqueteiro. Mas bastaram alguns dias para o verniz humanitário começar a descascar. De repente, o prefeito, que parecia tão preocupado com os vulneráveis, mirou outro grupo de pessoas que vivem à margem da sociedade: os moradores de rua.
Sem cerimônia, Brunini declarou que cortaria as marmitas distribuídas a eles, como se a comida, mínima e essencial, fosse um privilégio e não um direito humano básico. Para completar, propôs mandá-los de volta às suas cidades de origem, como se fossem pacotes a serem despachados. Mas eis que a realidade bateu à porta: o Desembargador Orlando Perri interveio, desaconselhando a medida. Perri lembrou que há leis e regras rigorosas para ações desse tipo, além de algo que parece faltar ao prefeito: empatia e bom senso.
A incoerência é gritante. Como pode um gestor que posa de “solidário” num dia virar as costas aos mais vulneráveis no outro? Abílio Brunini parece estar dirigindo um caminhão sem freio, descendo uma ladeira em noite de tempestade. O resultado é previsível: um desastre.
Os moradores de rua não são números, não são estatísticas e muito menos um problema a ser empurrado para debaixo do tapete. São seres humanos que, no auge de sua fragilidade, enfrentam o frio da noite, a fome do dia e, agora, o desprezo de quem deveria acolhê-los. Cortar as marmitas não é só insensível, é desumano. E, sejamos claros, não resolve problema algum.