O Ministério Público e a Arte de Virar Chapa Branca: Para Quem Serve a Carapuça?

 Ah, a velha expressão “chapa branca”! Um termo quase poético para designar aqueles que, de maneira sorrateira, vendem sua independência intelectual e institucional para se tornarem meros porta-vozes do governo. Foi com esse tom – indignado, mas cheio de subentendidos – que o Procurador de Justiça Domingos Sávio fez sua recente crítica nas redes sociais.

E para bom entendedor, meias palavras bastam. Ou melhor, uma expressão basta: “Ministério Público chapa branca”. Mas eis a grande questão: a quem se dirigia essa alfinetada certeira? Uma reflexão abstrata sobre os perigos da subserviência institucional? Ou uma mensagem subliminar destinada a um ex-Procurador-Geral de Justiça que recentemente deixou o cargo envolto em elogios açucarados ao governo estadual?A crítica de Domingos Sávio é quase um roteiro clássico: um personagem encantado pelo brilho do poder, que se ajoelha diante do mandatário e se torna um vassalo fiel. Um Ministério Público que, ao invés de ser o guardião da sociedade contra os abusos do poder, se transforma em um escudo de proteção para o governo. E, convenhamos, um MP assim seria tão útil à população quanto uma cerca de arame farpado em frente a um campo de batalha – separa, mas não protege.A fala de Domingos Sávio ressoa forte justamente porque toca em um ponto sensível. O Ministério Público, como instituição, tem autonomia funcional, administrativa e financeira para ser um verdadeiro fiscal da lei, e não um puxadinho do Palácio. Mas o que acontece quando essa independência vira uma formalidade e os procuradores se tornam personagens de um teatro de conveniência?Fica, então, o suspense: essa fala foi um recado direto a Deosdete Cruz, ex-Procurador-Geral de Justiça, cuja gestão ficou marcada pela proximidade com o governador Mauro Mendes e sua esposa, Virginia Mendes? Ou seria apenas um comentário filosófico, uma dissertação sobre o perigo das instituições que trocam suas prerrogativas por sorrisos e convites para jantares palacianos?O que sabemos é que a carapuça, quando jogada ao vento, sempre encontra uma cabeça disposta a vesti-la. E, pelo tom inflamado da crítica, parece que essa carapuça já tem dono.

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