O Babel Bolsonarista e o Crepúsculo de uma Liderança Fragmentada

Jair Bolsonaro, o homem que prometeu ser o bastião de uma nova ordem política, se encontra hoje enclausurado pela própria obra. Inelegível, mas ainda ruidoso, assiste ao desmonte lento e gradual de sua base, como um maestro sem batuta diante de uma orquestra que não o escuta mais. A direita radical, que durante anos se abrigou sob sua retórica populista de “Deus, Pátria, Família e Liberdade”, agora se dispersa em vozes desconexas, cada uma tentando reivindicar um pedaço do espólio ideológico que ele deixou para trás. O bolsonarismo, antes um bloco sólido, se tornou uma babel cacofônica, onde projetos pessoais se sobrepõem a qualquer visão coletiva.

Esse desmoronamento não é fruto apenas de sua inelegibilidade jurídica, mas da ausência de substância política. Durante seus quatro anos no Planalto, Bolsonaro governou como quem faz campanha eterna: entre motociatas, selfies e banhos de mar em Santa Catarina, ele não conseguiu consolidar políticas públicas transformadoras ou oferecer algo além do espetáculo. O desgaste é inevitável quando se governa com slogans em vez de projetos. E agora, sem a estrutura do poder para mascarar a ausência de resultados, a mitologia que o sustentava começa a desmoronar.

A divisão na direita é sintomática desse vazio. Nomes como Ronaldo Caiado, Gustavo Lima e até figuras caricatas como Pablo Marçal e o pastor Silas Malafaia começam a se mover como estrelas cadentes, tentando capturar os resquícios de uma base órfã. Mas o bolsonarismo sempre foi mais sobre a figura do líder do que sobre uma ideologia coesa. Sem Bolsonaro no controle, o movimento perde sua força centrípeta, tornando-se um aglomerado de projetos pessoais e narrativas concorrentes. É a política brasileira em sua essência: personalista, fragmentada e alheia às necessidades reais do país.

Enquanto a direita radical se fragmenta, a população brasileira parece cansada de seguir líderes sem planos, slogans sem substância. O eleitor não quer mais salvadores da pátria, mas projetos concretos que enfrentem os problemas urgentes do Brasil. O crepúsculo de Bolsonaro não é apenas o fim de uma liderança: é o início de uma oportunidade para reconstruir a política brasileira em bases mais sólidas, menos dependentes de messianismos e mais focadas na construção de um futuro comum.

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