
Eu olho para Mato Grosso de hoje e sinto um nó na garganta. Aqui da minha Cuiabá, sob o calor que nunca dá trégua, vejo um estado que parece ter desaprendido a sonhar. Terra de riqueza sem fim, segue a mesma sina de sempre: poucos ganham tudo, enquanto muitos mal sobrevivem. O povo, sufocado pelo peso da desigualdade, ainda acredita na velha fábula de que basta esforço para vencer. Mas como correr quando te amarram os pés? Como crescer quando te negam educação, dignidade, futuro?
O truque das elites continua o mesmo, só que agora mais sofisticado. A humilhação não vem mais só na forma de um capataz de fazenda ou de um patrão sem alma. Agora, ela vem disfarçada em discursos vazios, em manchetes calculadas, em um sistema que faz da pobreza um crime e da miséria um espetáculo. Aqui em Mato Grosso, onde a terra vale ouro, o trabalhador segue sendo explorado enquanto meia dúzia de bilionários controla tudo. A corrupção real não está no desvio pequeno que vira escândalo na TV, mas na entrega silenciosa da nossa riqueza para poucos.
E eu me preocupo. Me preocupa ver o povo acuado, anestesiado, acreditando que segurança é matar antes de entender, que justiça é punir os pequenos enquanto os grandes seguem impunes. Me incomoda essa classe média que despreza os pobres, sem perceber que está mais perto deles do que da elite que idolatra. Me dói ver Cuiabá crescendo para poucos, enquanto o restante se vira no improviso. Mato Grosso não foi destruído, ele foi programado para ser assim: um estado de muitos trabalhadores e poucos donos.
Mas será que ainda há tempo para acordar? Eu quero acreditar que sim. Que um dia o povo daqui de Cuiabá, de Mato Grosso inteiro, perceba que não precisa mais aplaudir essa farsa. Que se levante, que tome para si o direito de escrever sua própria história. Porque, do jeito que está, seguimos rindo de nossa própria tragédia, enquanto os verdadeiros culpados brindam no camarote. E isso, meu amigo, não pode ser normal.