Maria Fernanda: A Promotora que Enfrentou Gigantes e Honrou o Ministério Público

Há um brilho raro no olhar de quem decide enfrentar o sistema, sobretudo quando o sistema é a poderosa máquina do Estado. A promotora Maria Fernanda Corrêa da Costa, em um gesto digno de registro nas páginas mais respeitáveis da história de Mato Grosso, mostrou que ainda há no Ministério Público quem vista a toga com a honra, a coragem e o zelo que a sociedade espera de seus guardiões da justiça.

Quando decidiu suspender as obras do BRT em Cuiabá e Várzea Grande por falta de licenças e projetos adequados, Maria Fernanda não estava apenas apontando o dedo para um descuido burocrático; estava, na verdade, erguendo um escudo contra o autoritarismo disfarçado de eficiência. Uma obra desse porte, que afeta diretamente a vida de milhares de cuiabanos e várzea-grandenses, não pode avançar sem o devido respeito à legalidade e ao planejamento. Não é exagero dizer que sua atitude foi um grito de resistência contra o rolo compressor de um governo que prefere atropelar regras a dialogar com elas.

Mas não foi fácil. Do outro lado, um governador autoritário, que não poupou palavras para tentar desqualificar a promotora e sua decisão técnica, disparando aos quatro ventos a frase: “O Ministério Público não decide nada, quem decide é a Justiça.” Uma bravata típica de quem acredita que o grito pode suplantar o argumento. E, como era de se esperar, o eco dessa frase reverberou em alguns corredores do Judiciário, onde decisões favoráveis à continuidade da obra surgiram com a rapidez de uma martelada.

Ainda assim, Maria Fernanda permaneceu firme. Sustentou sua posição com argumentos técnicos, em um gesto que escancarou a essência de seu compromisso com o interesse público. Ela mostrou que há dignidade em nadar contra a corrente, mesmo quando a corrente é turva e violenta.

E onde estava a Associação do Ministério Público? Onde estavam os demais procuradores e promotores, que deveriam ser a muralha institucional para proteger quem ousa desafiar o poder? Silêncio. Um silêncio ensurdecedor, que reverberou ainda mais alto diante da coragem solitária de Maria Fernanda. Um silêncio que expôs, de forma triste e melancólica, a fragilidade de um órgão que, em outros tempos, se erguia com altivez contra os desmandos dos poderosos.

Maria Fernanda Corrêa da Costa não é apenas uma promotora; é um símbolo. Um símbolo de que o Ministério Público ainda pode ser relevante, ainda pode cumprir sua função constitucional de proteger a sociedade e zelar pela ordem democrática. Sua atuação honrou não apenas a instituição que representa, mas também todos os cidadãos que ainda acreditam em um Mato Grosso mais justo e responsável.

Se é verdade que as grandes batalhas definem os grandes líderes, então Maria Fernanda já ocupa, com todas as honras, o panteão dos grandes nomes do Ministério Público estadual. Que sua coragem inspire outros – dentro e fora da instituição – a seguirem seu exemplo, porque, como bem sabemos, a justiça nunca será feita no silêncio, mas no brado destemido de quem não se curva aos poderosos de plantão.

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