
Ah, Mato Grosso, terra de paradoxos. Enquanto o Brasil inteiro parece ruir sob a polarização e a falta de cerimônia, o governador Mauro Mendes decidiu escrever mais um capítulo dessa novela tragicômica que é a política brasileira. Em um gesto que beira o surrealismo, Mendes teve a audácia de mandar um representante de segundo escalão para a posse do prefeito de Diamantino, Francisco Mendes. Isso por si só já seria um tropeço político. Mas o verdadeiro escândalo? A presença do ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, irmão do prefeito. Sim, o Gilmar Mendes. Um dos homens mais poderosos e controversos do país, tratado como se fosse um espectador qualquer em um jogo de várzea.
O que passa na cabeça de um governador ao ignorar tamanha simbologia institucional? Gilmar Mendes, que independentemente das paixões que desperta, é uma figura central no Judiciário brasileiro, merecia, no mínimo, uma demonstração de respeito e deferência. O Brasil pode ter muitos defeitos, mas sempre soubemos cultivar uma etiqueta básica no jogo político – ou ao menos fingir que a temos. Mauro Mendes, ao enviar Felipe Wellaton, um ex-vereador de Cuiabá, para representá-lo, cometeu um erro que transcende a falta de decoro. Foi um ato de insensibilidade política, uma miopia institucional e, no fundo, uma grosseria.
E o que dizer do impacto simbólico desse gesto? O governador de um estado como Mato Grosso não está apenas representando a si mesmo; ele é o rosto do estado, a personificação de sua diplomacia. O recado enviado foi claro: nem o STF, nem a figura de Gilmar Mendes, tampouco a importância do evento mereciam sua atenção. Foi uma ausência que falou mais alto que qualquer discurso: um silêncio ensurdecedor que ecoou como um desdém institucional.
Mauro Mendes, por vezes que já foi aplaudido na sua gestão pragmática, agora se vê na berlinda de sua própria arrogância. Quem entende minimamente de política sabe que o gesto foi um erro crasso, um tiro no pé disparado com mira certeira. Gilmar Mendes, com todo o peso de sua figura e o simbolismo que carrega, não merecia ser tratado como mais um na multidão. Foi uma falta de respeito não apenas a ele, mas ao cargo que ocupa e à própria liturgia do poder.
No final das contas, Mauro Mendes conseguiu algo raro: uniu a plateia em um único sentimento – o de vergonha alheia. E em tempos de tanta divisão, unir as pessoas já é uma façanha. Pena que foi pelo motivo errado.