
Em um episódio que envergonha a liturgia do cargo, o governador de Mato Grosso decidiu dar um show gratuito de arrogância e irresponsabilidade durante uma entrevista a um jornal local nesta quarta-feira (15). A vítima? Nada menos que o próprio Sistema de Justiça do Estado, alvo de declarações tão incendiárias quanto sem fundamento. O resultado: uma resposta contundente do presidente do Tribunal de Justiça, desembargador José Zuquim Nogueira, que não poupou palavras para condenar o comportamento do chefe do Executivo.
É inaceitável que um governador, que deveria ser o exemplo de serenidade e diálogo, escolha o palanque da mídia para lançar ataques despropositados contra a honra de juízes e desembargadores. O desembargador Zuquim foi direto ao ponto: o que se viu foi um “lamentável episódio” que coloca em xeque a capacidade do governador de ocupar um cargo tão relevante.
O estopim da polêmica? A sugestão de que policiais militares e magistrados passem a usar câmeras corporais, algo que deveria ser discutido com equilíbrio e estudo prévio. Mas, em vez de propor um debate construtivo, o governador optou pelo caminho mais rasteiro: insinuar que a integridade do Judiciário estaria em questão. A isso, o presidente do TJ respondeu com veemência: “Não se pode admitir que o Chefe do Poder Executivo coloque em dúvida a honra e honestidade de todos os membros do Poder Judiciário.”
O ponto mais grave, contudo, não é apenas a crítica às câmeras ou aos procedimentos judiciais, mas o desprezo completo pela convivência entre os poderes. O governador parece ter esquecido que um dos pilares da democracia é o respeito mútuo entre as instituições.
Mais do que uma resposta ao governador, a manifestação do desembargador Zuquim é um grito de alerta: o Estado não pode ser governado por impulsos ou declarações populistas. As palavras têm peso, e as de um governador, mais ainda. Neste triste espetáculo, quem perdeu não foi apenas o Sistema de Justiça, mas todos os cidadãos de Mato Grosso, que esperam, no mínimo, maturidade e equilíbrio de seus líderes.
E assim seguimos, entre discursos inflamados e a lamentável constatação de que, para alguns, o poder só serve para atacar quem busca a justiça. Um verdadeiro absurdo institucional.