
Em um misto de populismo e irresponsabilidade institucional, o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, conseguiu transformar uma reflexão sobre a ética no Judiciário em um espetáculo que ridiculariza a imagem da Justiça estadual diante da imprensa nacional. Sua sugestão de implantar câmeras corporais em juízes, desembargadores e políticos, feita sob o pretexto de combater a venda de sentenças, não só é absurda como também desrespeitosa com a seriedade das instituições democráticas que ainda sustentam a frágil balança do Estado de Direito no Brasil.
É claro que o combate à corrupção deve ser incessante e transparente. Porém, Mendes, em vez de promover uma discussão responsável sobre a melhoria dos mecanismos de controle, opta pelo show midiático, atirando insinuações gravíssimas contra o Judiciário mato-grossense como se fosse um palanque improvisado. Suas palavras soam mais como munição para uma crise institucional do que como um remédio para a doença da corrupção. O governador parece ignorar que a credibilidade do Judiciário é pilar essencial para o funcionamento da democracia, preferindo enfraquecê-lo publicamente em nome de uma retórica de choque.
Ao lançar suspeitas indiscriminadas sobre magistrados e membros do Ministério Público, Mendes coloca em xeque a confiança da população nas instituições que ele deveria zelar. Além disso, desvia o foco das próprias responsabilidades do Executivo em questões como saúde, segurança e infraestrutura. É fácil atacar os outros de um pedestal político, mas é difícil admitir que a venda de sentenças – se existe – é fruto de um sistema que também carece de fiscalização, um dever que cabe a todos os poderes.
Mauro Mendes quis posar de paladino da moralidade, mas terminou como o incendiário que ateia fogo no próprio barraco. Em tempos de desinformação e polarização, um governador deveria ser o elo de construção e diálogo, não o porta-voz do desprezo institucional. Enquanto Mato Grosso se torna manchete pelos motivos errados, cabe a nós, cidadãos, lembrar que governar exige mais do que frases de efeito: exige seriedade e compromisso com o fortalecimento das instituições, não sua destruição.