
O governo de Mato Grosso acendeu a luz amarela. Disse que o caixa está apertado, que os servidores precisam entender a realidade, que a RGA (Revisão Geral Anual) precisa ser segurada, que a crise fiscal é um bicho que assombra os cofres públicos. Um discurso dramático, digno de uma ópera bufa. O secretário foi à Assembleia Legislativa, fez cara de choro, clamou por compreensão, quase pediu um abraço coletivo.
Mas, eis que, no mês seguinte, em fevereiro, a mesma caneta que negou reajustes ao funcionalismo assinou um contrato robusto: R$ 31,8 milhões para comprar um avião executivo de luxo. Não é qualquer aeronave, é um Beechcraft King Air, modelo B250 ou B260, bimotor, pressurizado, pronto para cortar os céus com elegância.
A luz amarela foi para os professores, para os policiais, para os enfermeiros. Para esses, o recado é claro: “Aguentem firme, estamos em tempos difíceis!” Mas, para o alto escalão do governo, a luz é verde. Verde para gastar milhões em um jato que, vejam só, será usado para “atender demandas da Secretaria de Segurança Pública”. Segurança de quem? De que forma? O que justifica essa gastança em um estado onde a polícia frequentemente opera com viaturas sucateadas e salários atrasados?
A realidade é que, quando se trata do conforto do poder, a crise some. Ela é um fantasma que só assombra quando se fala em direitos do povo. No mais, é vento. Um vento que sopra forte nas asas de um avião executivo novinho em folha.
