
O Consórcio Construtor do BRT Cuiabá resolveu sair da defensiva e dar o troco ao governador Mauro Mendes, que vinha pressionando publicamente as empresas pela lentidão nas obras. Em nota firme e cheia de recados cifrados, o consórcio expôs, sem rodeios, os inúmeros erros e improvisações que marcaram desde o edital de licitação até o anteprojeto, elaborado pelo próprio Estado. A mensagem foi clara: não é o consórcio que trava o andamento da obra, mas o caos administrativo e as mudanças arbitrárias que surgem ao sabor dos interesses do governador.
Entre os exemplos citados, a nota lista problemas técnicos grotescos, como estações desenhadas fora das normas de segurança, viadutos projetados para o extinto VLT sem adaptações para o BRT e um traçado que mudou tantas vezes que se tornou irreconhecível. Para piorar, decisões unilaterais, como a troca do Centro de Controle Operacional e a omissão sobre obras de macrodrenagem, mostram, segundo o consórcio, uma tentativa do governo de “fazer do seu jeito, ao arrepio da lei”.
O tom duro não passou despercebido. Ao apontar o dedo para Mauro Mendes, o consórcio escancarou que a gestão do projeto é tão caótica quanto as disputas políticas que cercam a obra. Enquanto o governador busca culpar terceiros, as empresas alegam que foram impedidas de executar mais de 80% do escopo contratado por conta de atrasos e inércia do próprio Estado. “Querem resolver na força, ignorando as normas técnicas e o interesse público”, diz, nas entrelinhas, a nota oficial.
Por trás desse embate, o que se vê é uma obra que deveria beneficiar a população, mas que se tornou um ringue de vaidades e autoritarismo. Se, por um lado, o consórcio tenta mostrar que está cumprindo sua parte, por outro, Mauro Mendes parece determinado a atropelar os entraves técnicos e legais, custe o que custar. O que era para ser um avanço no transporte público, agora se arrasta como um monumento à desordem.
A pergunta que resta é: quem vai pagar essa conta? Enquanto governador e consórcio trocam farpas, os cidadãos de Cuiabá seguem reféns de obras paralisadas, drenagens inacabadas e, acima de tudo, do descaso político que transformou o BRT em mais uma promessa perdida no tempo.