Em uma reflexão contundente sobre a estrutura social no capitalismo, a filósofa Marilena Chaui afirma que a sociedade é organizada fundamentalmente entre burguesia — senhora do capital — e trabalhadores, responsáveis pela produção de mais-valia. Nesse cenário, destaca a existência de uma terceira camada: a classe média, que, segundo ela, não detém capital nem produz valor excedente, mas desempenha funções centrais na reprodução do sistema. Para Chaui, a classe média opera como “correia de transmissão” da ideologia da classe dominante, disseminando seus valores por meio da educação, da imprensa e da cultura, apresentando-os como verdades universais.
A intelectual também aponta um conflito psicológico permanente neste estrato social: o sonho de ascender à burguesia e o medo de cair na condição de trabalhador. Esse binômio, segundo Chaui, leva a classe média a bajular os donos do poder e a hostilizar os mais pobres, buscando afirmar sua distância dos dominados e sua proximidade simbólica com os dominantes. “Ela sonha subir e teme cair. Ela é odiosa”, sintetiza, ao criticar o papel ideológico e político que esse segmento exerce na manutenção da desigualdade e da ordem vigente.


