A política tem seus enigmas, mas poucos são tão curiosos quanto o caso do deputado estadual Valdir Barranco (PT-MT). Com uma oposição que mais parece um carro com o freio de mão puxado, Barranco recebeu a bagatela de R$ 23,6 milhões em emendas pagas pelo governador Mauro Mendes, referentes ao orçamento de 2023 e 2024. Um número robusto, que contrasta com sua atuação na Assembleia: discreta, quase imperceptível, como um outdoor apagado no meio da BR. Afinal, o que explica essa passividade diante do poder?
Em 2023, num raro lampejo de combatividade, Barranco encomendou a um especialista uma série de requerimentos a secretários e até ao governador. Documentos prontos, prazos vencidos, e… silêncio absoluto. Nenhuma ação judicial, nenhuma bronca em plenário, nada. A papelada deve ter se empilhado ao lado de alguma biografia do Che Guevara que ele nunca leu. Enquanto isso, os cofres do estado seguem funcionando como uma máquina de refrigerante: você põe a ficha (ou a emenda) e espera a latinha cair.
A situação tem todo o roteiro de um suspense ruim. O que faz um parlamentar de oposição desistir de cobrar respostas oficiais? Será que a resposta veio de outra forma? Quem conhece os bastidores da política mato-grossense já tem suas suspeitas. Mas Barranco, que deveria ser um combatente, parece mais um espectador – ou, no máximo, um crítico de teatro frustrado, assistindo à peça sem coragem de subir ao palco.
No fim, a oposição dorme, e o governo agradece. O PT, partido que já foi sinônimo de enfrentamento, hoje tem um deputado que oscila entre o “parado” e o “quase andando”. Oposição de pijama, esperando um despertador que nunca toca. Enquanto isso, os milhões das emendas vão fluindo, discretos como um pix sem comprovante.

